Sete conceitos de um futuro que ficou para trás
- Por John Krewson
- 11:57 - 11-09-2010
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Carros conceito não são apenas uma oportunidade dos fabricantes nos mostrarem em que direção eles vão seguir. Em épocas mais ousadas, eles são uma plataforma que mostra para onde eles pensam que o mundo vai.
Atualmente, o “carro conceito” quase não existe mais. O que temos são protótipos e modelos quase finalizados. Alguns deles são muito interessantes. Mas raramente são o tipo de salto à frente que nos faz suspirar e que surgem em épocas de bonança – geralmente em um pós-guerra – como quando a General Motors usava suas mostras Motorama para lançar futuros modelos de linha como o Corvette, e no mesmo lugar apresentar modelos de um futuro não muito distante. Bons tempos aqueles. Aqui estão sete carros conceito que tentaram adivinhar o futuro – sete conceitos do futuro do pretérito.
GM Firebird I, II e III
1953 – 1959
Os Firebirds eram carros incrivelmente impressionantes, a mais pura essência da era a jato, mas sua importância como objetos futuristas vem do fato que eles realmente funcionavam. O Firebird I de 1953 foi construído, em parte, para testar a viabilidade dos motores de turbina em aplicações automotivas e guiados, de forma hesitante, em Indianápolis. O Firebird II, apresentado três anos depois, tinha um motor menos potente – e provavelmente mais simples – e uma carroceria feita de titânio, algo extremamente exótico, já que se travava de um metal estratégico na época; tinha ainda uma espécie de piloto automático, um sistema de direção que supostamente seguiria fios embutidos nas rodovias do amanhã. O Firebird III, de 1959, tinha tudo: a turbina, o titânio, o habitáculo bolha e as barbatanas, além de ser controlado, acelerado e freado por meio de um joystick instalado entre os assentos – como anunciava um panfleto, era “Uma Incrível Experiência em Controle Automático do Carro!”
Claro, nenhuma das tecnologias dos Firebirds chegou aos carros de linha, apesar das pesquisas e de seu desenvolvimento ter se pagado de outras maneiras, como sempre acontece com esses campos. O que torna os conceitos Firebird dignos de nota é o impressionante otimismo dos engenheiros e projetistas que os construíram, que decidiram que as complexidades de temperaturas na casa dos 650 graus no sistema de escape, joysticks para a direção e superfícies aerodinâmicas funcionais estariam presentes em um futuro que se aproximava.
Chrysler Turbine
1963
Assim que a ideia de usar turbinas chegou a Detroit, parece que nunca mais quis sair de lá. A Chrysler estava tão vidrada no motor de alto giro queimando qualquer coisa que escolheram uma carroceria com a assinatura Ghia. Diferente dos Firebirds, não tinha bolhas ou barbatanas gigantes. Por outro lado, exibia a traseira que você vê acima, o que era legal e provavelmente devia ser chocante na época. O carro foi cedido a alguns clientes preferenciais da Chrysler para uso temporário, o que era incrivelmente ousado. Muitas horas de trabalho foram gastas para resolver o problema de colocar o carro nas mãos de pessoas comuns, especialmente a parte traseira, que era potencialmente capaz de derreter para-choques, mesmo em uma época em que eles eram feitos de aço. Era o primeiro passo antes que todos pudessem sair por aí em carros a jato, um sinal de que o futuro do trânsito estava chegando, se não no ano seguinte, com certeza na década de 1970.
Então, no que muitos veem todo o tipo de teorias conspiratórias, nada aconteceu. O programa seguiu o seu planejamento, os carros funcionaram de forma confiável para depois serem destruídos – assim como ocorreu com o EV1 da GM. A Chrysler continuou testando turbinas, ao ponto de usar uma em um LeBaron por volta de 1977, mas nunca mais repetiu o corajoso passo de colocar uma tecnologia “da era espacial” nas mãos de clientes potenciais.
Ford Nucleon
1958
Quando as pessoas pensam no otimismo nuclear da década de 1950, o Nucleon é o tipo de coisa que elas imaginam: um carro de passeio movido à fissão nuclear. Enquanto os Firebirds eram retro-futuristas em desenho e o Chrysler Turbine era retro-futurista em execução (se é que isso é possível), a ideia do Ford Nucleon estava tão além de ambos que é difícil de acreditar que tenha sido considerada. A propulsão viria de uma usina de fissão de urânio situada na traseira do veículo que moveria duas turbinas a vapor. Após cerca de 8.000 quilômetros, a usina inteira seria substituída em uma estação de recarga da Ford.
É difícil dizer se este conceito era absurdamente otimista ou simplesmente absurdo. Em 1958, o ano em que o Nucleon foi apresentado, os turistas em Las Vegas tomavam seus Martinis nas coberturas dos cassinos para assistir a testes de bombas nucleares a menos de 120 quilômetros de distância, e os cientistas do projeto Orion trabalhavam duro em uma nave espacial que levaria o homem às estrelas, simplesmente detonando uma série de pequenas cargas nucleares sob ela. Em meio a tudo isso, a ideia de alguns Nucleons se colidindo na porta de sua casa talvez fosse o tipo de coisa com a qual os engenheiros só fossem se preocupar mais tarde. Assim, apesar de milhares de horas gastas projetando o conceito, o Nucleon nunca foi além do estágio de maquete. Sua ideia sobrevive como um símbolo daquele períodoentre a destruição de Hiroshima e a crise dos mísseis em Cuba, quando “O Poder do Átomo” resolveria todos os nossos problemas.
Oldsmobile Aerotech
1987-1992
Durante muito tempo, não se preocuparam de verdade com autonomia no meio do mundo automotivo. O avanço de uma conscientização voltada à segurança, crises de combustíveis e a chegada da praticidade e confiabilidade dos carros japoneses fez com que a maioria dos projetistas no ocidente se preocupasse com as demandas do presente, e a maioria dos projetos se perderam em meio a essa maré entediante de preocupações. O programa Aerotech do final da década de 1980, criado para a pesquisa aerodinâmica com o objetivo de quebrar recordes de velocidade, era uma exceção. Havia uma estranha ideia que ganhava espaço, pelo menos na imprensa automotiva dos Estados Unidos, que deveria existir um tipo de sistema Autobahn, no qual motoristas devidamente habilitados poderiam dirigir tão rápidos quanto pudessem ou quisessem (tem gente a fim de implantar algo assim em Nevada, sem o "devidamente habilitados"). Em 1987, a Chevrolet já havia construído o conceito “Express” baseado nesta ideia, por mais vazia que ela fosse. O Aerotech foi criado com uma mentalidade semelhante.
A Oldsmobile pegou uma versão 2.0 do quatro cilindros da GM, o Quad-4, o turbinou até onde não deveria, chamou A. J. Foyt, que o guiou a 413 km/h para quebrar o recorde de velocidade em circuito fechado. A Oldsmobile logo anunciou que o Aerotech indicava o futuro da marca. Infelizmente, isso não se traduziu em carros com aerodinâmica avançada que nos levavam a velocidades inimagináveis; no lugar disso lançaram o sedã esportivo Aurora e o motor Quad-4. O futuro aerodinâmico realmente chegou, mas como um meio de se alcançar mais economia de combustível, e encarnou nas formas enfadonhas do Prius, não as do Aerotech.
Toyota Pod
2001
O Pod surgiu como uma tentativa inicial de fundir o carro à internet, com uma pitada de tamagotchi. A Toyota projetou o conceito Pod em parceria com a então imbatível gigante Sony, cujo cão robô Aibo era um objeto de fascínio. O Pod o esperaria pacientemente fora de seu lar, enquanto sua inteligência artificial interagia com seus hábitos de televisão e navegação na web, obedientemente copiando músicas que você poderia gostar e notícias relacionadas com os seus interesses. Enquanto você dirigia, o carro reproduziria todo esse conteúdo. Ele ainda mudaria a cor da iluminação externa para refletir seu humor, dependendo da forma como você dirigisse, desde um vermelho invocado a um tranquilo azul, agitaria a antena quando estivesse relaxado e educado. O Pod era, de alguma maneira, um amigo que você podia guiar, ainda que de certa forma ele fosse um amigo assustadoramente curioso e invasivo.
O lado conectado do Pod já pode ser visto em alguns modelos, e parece estar em qualquer objeto que se ligue à web, desovando todo tipo de sugestões (amigos, músicas, filmes, jogos, leituras, etc.). E é difícil imaginar que andar com um Pokémon que entrega o seu estado de espírito seja interessante. Mas o Pod é um bom exemplo do que se imaginava transformar a relação da internet e seus usuários. Para o lugar de um gadget futurista para o dia-a-dia, o seu lugar em nossa cultura foi praticamente tomado pelo Roomba.
Toyota iReal
2007
Se o Pod era a interpretação da internet sobre quatro rodas na virada do século, o iReal é a interpretação das redes sociais como um… meio de transporte. Wall-E e o Segway se juntam no que parece ser uma cadeira de rodas projetada pela Apple. Enquanto aprecia a paisagem, você permanece na vertical. Quando é hora de voar em direção a uma região mais distante, ele reclina, se inclina nas curvas e chega aos 30 km/h.
A comparação com as redes sociais é devido à capacidade do iReal de localizar e se comunicar com outros usuários do veículo na região, tudo para trocar informações, provavelmente sobre atividades relacionadas ao iReal, e convidá-los para um encontro, provavelmente para marcar território. O iReal está em uso limitado, com uma versão equipada com desfibriladores portáteis em uso pela segurança de um aeroporto japonês. Mas por mais interessante que seja, é de certa forma deprimente imaginar um futuro no qual estaremos presos a uma cadeira de rodas.
Honda FCX
Desde 2006
Quando a Honda apresentou sua versão conceitual da célula de combustível, que usa hidrogênio para alimentar três motores elétricos, anunciaram que ela logo estaria disponível para leasing em algumas regiões e motoristas selecionados. Cumpriram esta promessa ambiciosa, e há cerca de 50 unidades zunindo por aí nesta versão nipônica moderna do programa Turbine Car da Chrysler. O FCX Clarity aposta que a alternativa do hidrogênio pode ser mais vantajosa do que um carro elétrico que precise sugar toda sua força da rede já existente.
A ideia aqui seria uma rede de estações de reabastecimento que forneçam hidrogênio da mesma maneira como fazem hoje com gasolina. Os motoristas de amanhã seguirão suas vidas automotivas da mesma forma como fazemos hoje, tirando alguns cheiros e sons atuais. Segundo as avaliações disponíveis, o desempenho do FCX é perfeitamente aceitável, ainda que não se destaque, assim como sua aparência. O preço dos sistemas de célula de combustível também continua muito alto. O único tipo de veículo a utilizar esse modo de propulsão são os submarinos de última geração, cotados em centenas de milhares de dólares. Não por acaso, todos os automóveis movidos a hidrogênio que rodam por aí foram oferecidos na forma de leasing, sem que os participantes tenham que arcar com o custo unitário de cada carro.
Talvez tudo isso seja decepcionante, já que é mais divertido imaginar algum tipo de cadeira de rodas com barbatanas a 407 km/h. Se este é o seu caso, pode se sentar: como nos mostraram os carros acima, o futuro que teremos dificilmente será o futuro para o qual nos preparamos. Vai saber. Talvez o desengonçado carro elétrico seja um passo na direção dos carros voadores e jetpacks…
Crédito das fotos: General Motors, Automotive History Online, conceptcarz.com, Sete conceitos de um futuro que ficou para trás“>Karrmann, Sete conceitos de um futuro que ficou para trás“>Max Smith, Getty Images.
fonte:
http://www.jalopnik.com.br/conteudo/sete-conceitos-de-um-futuro-que-ficou-para-tras